terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A Arte das Palavras

Esta será provavelmente a primeira e última vez que escrevo neste local em nome próprio! A arte das palavras deixo-a para os hábeis poetas, ou para os dignos sábios que pisaram esta terra. Esta folha cor de sangue, coberta com uma lágrima cristalina como a verdade, nasceu fruto do amor, não o amor sôfrego da paixão, não o amor triste da solidão, nem sequer do amor romântico, escrito infinitas vezes nas páginas dos livros, mas um amor completo, livre, iluminado, com um pouco de todos os outros, mesmo aqueles que o ser humano ainda não contemplou. E este amor cresce dentro de mim, para ser vivido e partilhado!

Diz-se que o verdadeiro amor existe quando dois seres humanos partilham uma única alma. Poderá parecer fantasioso, mas creio que se assim for esta é uma boa fantasia, faz-nos acreditar que somos centelhas de luz que iluminam como fogo fátuo os seres que habitam este planeta, pode ser tão simples quanto isso, seres etéreos que passeiam-se pela via láctea aprendendo com as suas opções, crescendo com as suas existências, tentando conquistar a cada segundo um pouco mais de brilho, para que num dia longínquo tenham energia suficiente para viajar entre as estrelas. Por vezes nas suas deambulações até podem perder um pouco desse brilho, mas tal não será relevante, serviu para aprenderem, e isso é uma dádiva, tal como todos os pequenos, e irregulares passos que um recém nascido dá no inicio da sua existência, por vezes cai e chora, noutras irá cair e sorrir, até conseguir articular o seu passo, e aí irá certamente rir numa felicidade infinita.

O conceito de liberdade, por vezes pode ser sobrevalorizado ou até mesmo deturpado, eu tenho um muito próprio, diria até um pouco romântico, ser livre não é voar sozinho, mas sim voar connosco, amarmos-nos e àqueles que são nossos, não com um sentido de posse, mas no sentido de partilha, porque gostaríamos que voassem a nosso lado, para sentirem tal como nós a fresca e pura brisa no rosto, para podermos olharmos-nos nos olhos, darmos as mãos e sentirmos-nos verdadeiramente felizes, pois aqueles que amamos estão felizes como nós. Pairar sobre grandes planaltos e encontrar uma fonte no final de um arco-íris, e pudermos mostrar-lhes como é fresca a água, pudermos segui-los quando se aventuram por paisagens que ainda desconhecemos. Liberdade não pode ser o oposto de partilha, e esta quando existe amor verdadeiro nunca será posse, tal como um filho nunca será propriedade dos seus pais, estes estão perto porque o amam, porque querem mostrar-lhe o magnifico mundo que o rodeia, da mesma forma que este mostra-lhes o seu paraíso visto com a inocência própria das crianças, e assim todos partilham a beleza e a liberdade de uma forma até antes desconhecida de todos.

Liberdade: Estar deitado numa escarpa, ao nascer do Sol, sentir os pequenos salpicos salgados nos lábios que voam desde a rebentação do majestoso oceano contra as rochas, olhar em em volta, com os olhos semi-cerrados e ver uma andorinha a aventurar-se para fora do seu ninho, construído numa fresta nas rochas esculpidas pelo vento e pelo mar, a olhar-nos com curiosidade, levantar-me, levantar os pés do chão e voar, como se o tempo ficasse suspenso, em direcção ás sombras prateadas daquele mar, olhar em volta e lembrar quanto deliciosas são as bagas transparentes do pequeno arbusto que cresce naquela aresta, esticar as mãos e quase conseguir tocar-lhe, mas mesmo assim sentir a entrar pelas narinas o seu odor tão fresco, que aquele frágil arbusto e os seus frutos emanam, furar o mar e sentir cada célula a pressão, a temperatura e a suavidade do profundo oceano tocar-me na alma, deixar-me levar livre para o fundo, para descobrir os seus tesouros, os seres aquáticos que olham para nós da mesma forma que a andorinha o fez, peixes a beijarem-nos as mãos, aceitando-nos no seu reino, dançar ao ritmo de gigantes e esbeltas algas, tocar nos redondos grãos de areia que dormem no fundo, ver os primeiros raios de luz daquele dia a encantar este mundo misterioso, dar a mão aos espíritos daquele lugar e passear-me, suspenso na existência e por fim subir à superfície, como quando despertamos de um bom sonho, sentir o calor do Sol no rosto, o sal a quebrar-se na pele, a água a escorrer pelo corpo e sorrir para o pequeno pássaro que ficou à porta do seu ninho, da mesma forma que este sorri para mim, sorrindo para a vida.

Estas são as minhas palavras toscas e desarticuladas, relegando aos artistas e sábios a arte de trazerem os sentimentos e sensações infinitas na forma de escritos, pinturas, musicas ou apenas deambulações sobre a vida a mortais como nós, pois para mim guardo, se tal for permitido, o papel menor de aprender em cada dia da minha existência.

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